O homem e sua árvore
Cristiane Maria Magalhães
O homem tinha uma árvore de estimação.
Não era uma árvore qualquer. A árvore tinha crescido junto com o homem.
Ele, menino, a havia plantado com suas próprias mãos pequeninas. Regava todos os dias a arvorezinha com dedicação e estima. Nas várias investidas das formigas e outros insetos, tirava da própria mesada para comprar venenos e artifícios que a preservasse.
Não era uma árvore qualquer. A árvore tinha crescido junto com o homem.
Ele, menino, a havia plantado com suas próprias mãos pequeninas. Regava todos os dias a arvorezinha com dedicação e estima. Nas várias investidas das formigas e outros insetos, tirava da própria mesada para comprar venenos e artifícios que a preservasse.
Em todos os natais, enfeitava-a com inúmeras lâmpadas coloridas.
Nos aniversários, era debaixo dela que cantavam o parabéns e, no íntimo, o menino soprava as velas para ele e para ela, como se tivessem sido concebidos na mesma data.
O menino cresceu, a árvore também. Ambos germinaram, se multiplicaram.
O homem teve filhos e, depois, netos.
A árvore se encheu de flores incontáveis vezes.
Assim como aconteceu ao homem, para a árvore houve momentos de angústia, em que ela perdeu todas as suas folhas, exposta às intempéries do tempo. No entanto, também, foram muitos os momentos de glória, em que repleta de folhas e flores era observada, fotografada, apontada. Nestas ocasiões o homem se enchia de orgulho como se a árvore fosse parte dele, criação e obra sua.
Mas, por uma dessas fatalidades da vida, o homem precisou cortar a árvore. Ainda hoje não se sabe precisar os motivos. O fato é que o homem precisava cortar aquela árvore!
Durante semanas ele virou noites pensando em como poderia eliminar de sua vida árvore tão querida.
Por fim, o homem decidiu-se pelo corte lento ao invés da ruptura brusca.
Todos os dias ele acordava e, antes de tomar o seu café, pegava o machado e aplicava-lhe um golpe certeiro, apenas um. Não mais que isso.
Dessa forma, acreditava, o rompimento seria menos dolorido para os dois.
Tinha dias em que o homem acordava e, tomado de nostalgia e saudade, pegava o machado e não conseguia desferir-lhe o golpe diário. Lágrimas desciam pelo seu rosto enquanto lutava contra a razão que insistia em dizer ser necessária a eliminação brusca da árvore. "Corte-a de uma vez e poupe sofrimento a ambos!", gritava-lhe a razão. Em dias assim, era inútil a razão gritar, esbravejar ou apenas sussurrar. O homem só ouvia o seu coração...
Então, ele corria contra o tempo. Queria reaver a sua árvore de volta. Procurava um especialista, contava o fato: "Precisava eliminá-la, mas desisti. Como faço para curá-la dos cortes que lhe apliquei com o machado?". O especialista, invariavelmente, dizia que era preciso tempo e cuidado, a árvore poderia sim refazer-se, mas as marcas do machado iam permanecer para sempre.
Entretanto, no outro dia, o homem acordava e resolvia ouvir a voz da razão novamente... pegava o machado e desferia o golpe certeiro, cruel, dolorido.
Passou-se quase um ano nesse ir e vir do homem e sua árvore. Os momentos de dúvidas e de certeza foram se alternando cada vez com maior freqüência.
A árvore, pobrezinha, se sustentava agora apenas por um filete de vida.
Nem ela, nem o homem estavam felizes.
Foi então que numa manhã, o homem acordou de olhos vidrados e coração embrutecido, pegou o machado e de um só golpe derrubou a árvore ao chão.
Não teve coragem de recolhê-la. Nem mesmo quis ficar para ver a sua retirada.
Chamou um dos filhos, contou o fato e pediu que a levasse para bem longe dali, longe dos seus olhos e coração perdidos.
Não quis saber o que o filho fez da árvore estimada. Nunca perguntou. Saiu andando, caminhou pelas ruas naquele sábado nublado, chorou sozinho pelas esquinas, amargurado e triste. Quando voltou ela já não estava mais lá, apenas um imenso vazio havia restado no pátio, em frente à casa.
A própria casa ficou estranha ao homem, não a reconheceu. Achou-a fria, vazia, estranhamente feia e sombria sem a árvore a fazer-lhe sombra, a enfeitar-lhe o telhado de cores, a cobrir-lhe o terreiro de folhas e cheiros. Silêncio, era o que mais se fazia presente. Os pássaros também tinham partido, junto com a árvore querida.
Nos dias que se seguiram, o homem também não se reconhecia... era outro homem, os amigos diziam, a esposa reclamava, apenas os netos ofereciam alguma espécie de consolo a ele.
O tempo passou, o calor voltou ao corpo do homem, mas a falta da sua árvore querida ele nunca conseguiu superar. Às vezes, no meio de uma conversa animada, o homem ficava ausente, os olhos perdidos em algum canto. Noutras, pegava um livro, apenas como desculpa, e sentava-se próximo ao lugar onde a árvore tinha existido e para lá fixava os olhos, como se a qualquer momento descobrisse que tudo não havia passado de um sonho ruim e sua árvore ainda estaria ali, do mesmo jeito como sempre esteve a vida toda.
O que as pessoas não sabiam e não poderiam entender, é que a árvore e o homem tinham se tornado um. Mesmo depois da ausência física dela em frente à casa, a árvore continuou e continuaria existindo nas lembranças, no coração, nos desejos, nas lágrimas e no sorriso do homem para a vida toda.
Nos aniversários, era debaixo dela que cantavam o parabéns e, no íntimo, o menino soprava as velas para ele e para ela, como se tivessem sido concebidos na mesma data.
O menino cresceu, a árvore também. Ambos germinaram, se multiplicaram.
O homem teve filhos e, depois, netos.
A árvore se encheu de flores incontáveis vezes.
Assim como aconteceu ao homem, para a árvore houve momentos de angústia, em que ela perdeu todas as suas folhas, exposta às intempéries do tempo. No entanto, também, foram muitos os momentos de glória, em que repleta de folhas e flores era observada, fotografada, apontada. Nestas ocasiões o homem se enchia de orgulho como se a árvore fosse parte dele, criação e obra sua.
Mas, por uma dessas fatalidades da vida, o homem precisou cortar a árvore. Ainda hoje não se sabe precisar os motivos. O fato é que o homem precisava cortar aquela árvore!
Durante semanas ele virou noites pensando em como poderia eliminar de sua vida árvore tão querida.
Por fim, o homem decidiu-se pelo corte lento ao invés da ruptura brusca.
Todos os dias ele acordava e, antes de tomar o seu café, pegava o machado e aplicava-lhe um golpe certeiro, apenas um. Não mais que isso.
Dessa forma, acreditava, o rompimento seria menos dolorido para os dois.
Tinha dias em que o homem acordava e, tomado de nostalgia e saudade, pegava o machado e não conseguia desferir-lhe o golpe diário. Lágrimas desciam pelo seu rosto enquanto lutava contra a razão que insistia em dizer ser necessária a eliminação brusca da árvore. "Corte-a de uma vez e poupe sofrimento a ambos!", gritava-lhe a razão. Em dias assim, era inútil a razão gritar, esbravejar ou apenas sussurrar. O homem só ouvia o seu coração...
Então, ele corria contra o tempo. Queria reaver a sua árvore de volta. Procurava um especialista, contava o fato: "Precisava eliminá-la, mas desisti. Como faço para curá-la dos cortes que lhe apliquei com o machado?". O especialista, invariavelmente, dizia que era preciso tempo e cuidado, a árvore poderia sim refazer-se, mas as marcas do machado iam permanecer para sempre.
Entretanto, no outro dia, o homem acordava e resolvia ouvir a voz da razão novamente... pegava o machado e desferia o golpe certeiro, cruel, dolorido.
Passou-se quase um ano nesse ir e vir do homem e sua árvore. Os momentos de dúvidas e de certeza foram se alternando cada vez com maior freqüência.
A árvore, pobrezinha, se sustentava agora apenas por um filete de vida.
Nem ela, nem o homem estavam felizes.
Foi então que numa manhã, o homem acordou de olhos vidrados e coração embrutecido, pegou o machado e de um só golpe derrubou a árvore ao chão.
Não teve coragem de recolhê-la. Nem mesmo quis ficar para ver a sua retirada.
Chamou um dos filhos, contou o fato e pediu que a levasse para bem longe dali, longe dos seus olhos e coração perdidos.
Não quis saber o que o filho fez da árvore estimada. Nunca perguntou. Saiu andando, caminhou pelas ruas naquele sábado nublado, chorou sozinho pelas esquinas, amargurado e triste. Quando voltou ela já não estava mais lá, apenas um imenso vazio havia restado no pátio, em frente à casa.
A própria casa ficou estranha ao homem, não a reconheceu. Achou-a fria, vazia, estranhamente feia e sombria sem a árvore a fazer-lhe sombra, a enfeitar-lhe o telhado de cores, a cobrir-lhe o terreiro de folhas e cheiros. Silêncio, era o que mais se fazia presente. Os pássaros também tinham partido, junto com a árvore querida.
Nos dias que se seguiram, o homem também não se reconhecia... era outro homem, os amigos diziam, a esposa reclamava, apenas os netos ofereciam alguma espécie de consolo a ele.
O tempo passou, o calor voltou ao corpo do homem, mas a falta da sua árvore querida ele nunca conseguiu superar. Às vezes, no meio de uma conversa animada, o homem ficava ausente, os olhos perdidos em algum canto. Noutras, pegava um livro, apenas como desculpa, e sentava-se próximo ao lugar onde a árvore tinha existido e para lá fixava os olhos, como se a qualquer momento descobrisse que tudo não havia passado de um sonho ruim e sua árvore ainda estaria ali, do mesmo jeito como sempre esteve a vida toda.
O que as pessoas não sabiam e não poderiam entender, é que a árvore e o homem tinham se tornado um. Mesmo depois da ausência física dela em frente à casa, a árvore continuou e continuaria existindo nas lembranças, no coração, nos desejos, nas lágrimas e no sorriso do homem para a vida toda.
3 comentários:
Oi, Fernando!
Obrigada por colocar o conto aqui... eu gosto bastante dele.
Abração!
Obrigado a você que escreve maravilhosamente. Também gostei dele, tanto que resolvi postar aqui.
Bjs :D
Olha só, esse conto dá um belo roteiro de uma animação ou curta, hein?! Quem sabe...
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